SUS oferta nova opção de tratamento da hepatite B
Pacientes
com contraindicação aos tratamentos até então ofertados no Sistema Único de
Saúde (SUS) para hepatite B irão se beneficiar a partir desse mês com um novo
medicamento. O Ministério da Saúde incorporou ao rol de alternativas
terapêuticas o tenofovir alafenamida (TAF), que configura a terceira linha de
tratamento da doença para pessoas em que o uso de tenofovir convencional e
entecavir não for possível.
A incorporação ocorreu visto
que, para alguns pacientes específicos, o TAF se mostrou mais seguro que o
entecavir em relação a resistência viral após o uso prévio de lamivudina e, em
situações bastante específicas, se mostra como opção mais segura referente a
disfunções ósseas e renais, quando comparado ao fumarato de tenofovir
desoproxila (TDF), um medicamento antirretroviral e antiviral usado para
hepatite B, Delta e também para o tratamento da HIV/Aids no Brasil.
Por isso, a partir de agora,
pacientes que já fazem tratamento para hepatite B e apresentarem condições
clínicas, como contraindicação no uso dos medicamentos existentes para hepatite
B, poderão se beneficiar com o uso da nova opção de medicamento.
A previsão é de que, durante
os meses de março e abril deste ano, o Ministério da Saúde distribua mais de 1
milhão de comprimidos do novo medicamento para todo Brasil. O investimento
anual para oferta desse novo medicamento está estimado em mais de R$ 18
milhões.
O tenofovir alafenamida (TAF)
foi recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
Sistema Único de Saúde (Conitec), responsável pela incorporação de tratamentos,
tecnologias e insumos no SUS.
O gastroentorologista do Complexo Hospitalar
Clementino Fraga em João Pessoa, Erick Villar, explicou que a hepatite B é
caracterizada por uma lesão hepática necroinflamatória das células do fígado,
sendo um problema sanitário da maior relevância, uma vez que tem potencial de
levar a cirrose, que seria o estágio final da doença.
O especialista ainda informou que a doença é causada
por um vírus de DNA, sendo uma das peculiaridades que o distingue dos demais
vírus com afinidade pelo fígado, como o A, C, D e E, já que esses são de RNA, além
de ter potencial de induzir mutações e levar ao câncer de fígado.
Ele lembrou que as hepatites não são acusadas apenas
por esses vírus, existindo outros como citomegalovírus, vírus do herpes,
coronavírus, entre outros.
“Existem ainda as hepatites cuja origem é atribuída
a agentes nocivos não virais, como por exemplo, a hepatite alcoólica que é
causada pela ingestão em excesso de bebidas alcoólicas; hepatite tóxica, que é
causada por medicamentos, tóxicos, ervas, plantas e suplementos, e as hepatites
autoimunes que são causadas pela agressão do nosso próprio sistema imune”,
lembrou Erick Villar.
Os principais sintomas da doença podem variar, desde
uma doença aguda autolimitada, até uma forma grave como a hepatite fulminante,
e ainda apresentar um curso crônico com evolução para cirrose hepática.
Para o gastroenterologista, os sintomas dependem de
qual fase o paciente se apresenta. Em geral, podem ser assintomáticos ou
manifestarem poucos sintomas, sendo que tais sintomas são pouco específicos
como fraqueza, mal estar, indisposição, redução do apetite, desconforto
abdominal e indisposição. “O aparecimento de icterícia, com colúria e hipocolia
fecal, na fase aguda, ocorre em apenas 20% dos pacientes”, disse.
Outros sintomas podem ocorrer na fase de cirrose,
com as complicações desta (ascite, sangramentos digestivos, alterações de
comportamento, dor abdominal), o que aumenta muito a morbimortalidade.
Prevenção
- O médico lembrou que o modo mais eficaz de prevenir a hepatite B é por meio
da vacina e é altamente eficaz, feita em três doses e disponível na rede
pública de saúde para a população até os 49 anos e também em casos especiais
acima dessa faixa etária.
Outra formas de prevenção apontadas pelo
especialista são as práticas de sexo seguro através do uso de preservativos, já
que a hepatite B também é uma doença sexualmente transmissível; seleção
criteriosa das bolsas de sangue com triagem das mesmas para descartar a
presença do vírus, o que já é feito sistematicamente desde 1993, e profilaxia
pós exposição sexual desprotegida ou após acidente com material biológico para evitar
a transmissão/infecção.
A educação da população em relação as formas de
transmissão, incluindo evitar o compartilhamento de tesouras, alicates, lâminas
de barbear e depilar, atenção à esterilização adequada do material da manicure
e pedicure, como também do tatuador, preferencialmente levando o seu próprio
material, também são formas de prevenir a doença.
Segundo ainda Erick Villar, os cuidados na prevenção
da doença acontecem já no pré-natal, pois a triagem é obrigatória para a
detecção da condição de portadora da gestante e realização de medidas que
evitem a transmissão vertical (de mãe para filho).
O controle da doença é obtido com o tratamento dos
pacientes infectados pelo HBV, reduzindo o nível de viremia, diminuindo a
inflamação e melhorando ou preservando a função hepática.
Outras medidas de controle incluem a testagem de
todas as pessoas que co-habitam a residência do portador, as pessoas que
mantiveram contato sexual com ele e a busca ativa para o diagnóstico na
população geral, através de campanhas de testagem populacional, facilitando o
acesso a esse tipo de tecnologia.
Para o médico, todas as fases da doença são
passíveis de tratamento, disponíveis gratuitamente pelo SUS, incluindo os cirróticos
que seriam os casos avançados. “A doença pode acometer qualquer faixa etária,
sendo a maior ocorrência dos 30 aos 60 anos”, informou.
João
Pessoa com mais casos - Erick Villar destacou que o mapa de
ocorrência da doença foi superior em João Pessoa, quando comparado a toda a
Paraíba, conforme dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde de Julho de 2021. “Em média 1,2 casos
detectados para cada 100 mil habitantes em 2020 em João Pessoa e no Estado uma
média de 0,7 casos/100 mil habitantes”, disse.
Conforme o gastroenterologista, o tempo de
acompanhamento do portador da hepatite B no geral é por toda a vida e a
periodicidade dependerá de inúmeros fatores, como a existência de comorbidades,
condição de portador inativo, cirrose ou indivíduos com cura funcional.
“Mesmo os portadores inativos da hepatite B, os
quais não fazem uso de medicações, necessitam de acompanhamento ao logo de toda
a vida, tanto pelo risco de mutações que permitem o vírus se replicar e escapar
do controle do sistema imunológico, quanto pelo risco de câncer”, destacou
Villar.
Ele lembrou que o acompanhamento é feito até para
aqueles que atingiram a cura funcional (definida pelo anti HBs reagente), uma
vez que não se elimina totalmente o vírus da hepatite B do corpo, ficando um
pedaço do vírus no DNA. “Em situações especiais, como quimioterapia com determinadas
medicações, há o risco teórico de reativação do vírus, requerendo profilaxia”,
advertiu.
O médico informou que a nova droga a ser ofertada
pelo MS constitui uma alternativa para quem tem contraindicações ao tenofovir
ou entecavir (neste caso para quem já fez uso prévio de lamivudina devido à
resistência cruzada). “Se constitui também como alternativa para àqueles com
maior risco de toxicidade renal ou óssea e possibilita eficácia em menor dose e
consequentemente com menor exposição sistêmica”, enalteceu.
Saiba
a diferença das hepatites – Erick explicou que em relação às
hepatites virais, os mecanismos habituais de transmissão são comumente
classificadas em dois grandes grupos: o primeiro corresponde àquelas cuja
transmissão se faz pelas vias fecal e oral, englobando as hepatites A e E, e no
segundo, situam-se as que são transmitidas através de contato direto com o
sangue contaminado, representadas pelas hepatites B, C e Delta.
Ele lembrou que das cinco hepatites virais
conhecidas, as mais importantes para a saúde pública são as causadas pelo vírus
B e C, por apresentarem elevado potencial de cronificação, o que pode levar a
cirrose e ao câncer hepático.
“A hepatite A tem alta prevalência em regiões onde é
precário o saneamento ambiental, o que cria condições propícias para sua
disseminação. Essa característica faz com que a hepatite A seja amplamente
encontrada no Brasil, sendo a de mais alta incidência”, evidenciou.
O médico informou que, já a hepatite Delta possui
associação obrigatória com a hepatite B, largamente disseminada em extensas
regiões do território brasileiro – particularmente na região amazônica.
“Quanto a hepatite E, ocorre em numerosos países em
desenvolvimento, onde tem sido associada à epidemia transmitida por água
contaminada com resíduos de esgoto. Normalmente não se associa a casos graves,
uma vez que, como a hepatite A, não tem potencial de cronificação”, lembrou
Erick Villar.
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