HNSN será centro pioneiro do Nordeste em medicina fetal
Melhorar o índice de sobrevida de 10% para 70% em bebês com casos de Síndrome da Transfusão Feto Fetal (STFF) e reduzir em 50% o risco de complicação pós-natal os diagnosticados com espinha bífida, um defeito na coluna com consequências motoras, como o ato de andar, são algumas das intervenções que serão feitas pelo Hospital Nossa Senhora das Neves (HNSN), elevando a unidade ao ranking de primeiro centro de medicina fetal no Nordeste, em parceria com a Rede D’Or.
O HNSN passa a ser o segundo complexo hospitalar da Rede de Medicina Fetal da D’Or que já conta com um centro no Rio de Janeiro e vai estender o serviço simultaneamente para Brasília, Curitiba e interior de São Paulo. Para isso, as reuniões científicas tiveram início na noite desta quinta-feira (31), com a presença de autoridades no assunto, equipe administrativa e assistencial da unidade, entre outros.
O diretor médico da Perinatal, maternidade da Rede D’or no Rio de Janeiro e coordenador da Rede de Medicina Fetal, Renato Sá, informou que está em curso a formação desta rede e o HNSN vai ser um dos centros, também chamado de hub para receber os casos de medicina fetal e fazer o tratamento completo, que vai desde uma punção para fazer um diagnóstico, até uma cirurgia intra-uterina para tratar doenças mais complexas como uma mielomelingocele, também chamada de espinha bífida.
“O HNSN será um centro pioneiro para cobrir toda essa região do Nordeste, recebendo e tratando essas crianças, e a escolha da unidade se deu em função de já contar com uma equipe altamente treinada e atuante, pois é importante não só fazer a cirurgia, mas o diagnóstico, acompanhamento e follow-up (seguimento desses casos)”, adiantou.
O médico, que também tem pós-doutorado em Medicina Fetal, informou que o grupo trabalha com níveis de complexidade, e a fase inicial que compreende toda a parte de diagnóstico e de encaminhamento, a equipe do HNSN já está fazendo. “Com a minha vinda, vão começar o tratamento intrauterino que é a segunda etapa do projeto, e a partir daí, a terceira etapa será o seguimento e follow-up. A partir do momento que começarmos a tratar os casos intrauterinos, o centro vai ser desenvolvido automaticamente”, informou.
Vanguarda - Ele destacou que o HNSN já está pronto para começar o atendimento e receber a demanda. “O atendimento em rede será pioneiro no Brasil. O que acontece é que os casos existem e são remetidos na maioria das vezes habitualmente para centros de tratamento no Sudeste. A ideia é o que o centro esteja próximo da casa da gestante que precisa deste tipo de tratamento”, disse
Renato Sá relatou o esforço que muitas gestante fazem para se deslocarem ao Sudeste, que se atenuado, tende a melhorar os resultados tanto da cirurgia, como os resultados pós-natais.
“Com esse tipo de tratamento, se consegue alcançar uma quantidade bem grande de condições de problemas mais simples, desde tratar uma anemia do bebê dentro do útero, fazendo uma transfusão sanguínea, a uma hérnia diafragmática congênita em que a gente coloca um pequeno balão na traqueia do bebe para que o pulmão possa se desenvolver e ser operado após o nascimento, a fim de retirar esse material”, explicou.
Ele informou que, outra forma de abordagem da medicina fetal com a intervenção nos casos dos fetos com espinha bífida, vem ganhando mais notoriedade no momento com o tratamento dentro do útero por meio do tratamento fetoscópico, ou seja, o bebê é operado por meio de uma microcâmera de 3 mm. “O benefício também é estendido para a mulher que pode até ter um parto normal, já que a agressão ao útero é muito pequena”, disse.
O coordenador de Medicina Fetal da Rede D’Or explicou que para os casos mais notáveis por exemplo, em gêmeos que possuem a STFF, em que que um deles doa o sangue para o outro ainda dentro do útero, o bebê doador acaba morrendo por anemia e o que recebe acaba indo a óbito, pois o coração não aguenta, daí se não tiver tratamento, 90% das vezes os dois bebês vão morrer.
“Com o tratamento que é a cirurgia a laser dentro do útero para separar as duas circulações, se consegue melhorar o resultado de sobrevida que antes era de 10% e passa a ser em torno de 70%”, explicou.
Qualidade de vida - Ele também revelou que para os casos da hérnia diafragmática congênita grave, também a expectativa de mortalidade que era de 90%, se consegue a reversão em torno de 40%. “Por sua vez, a espinha bífida, que não é uma condição letal como as duas citadas, que pode levar a sequelas motoras, o problema é reduzido em 50% o risco motor, ou seja, aumenta em 50% o risco desse bebê andar”, esclareceu.
Outra vantagem apontada para os casos de tratamento cirúrgico voltado para a correção da espinha bífida na vida intrauterina, por se tratar de uma patologia que provoca a hidrocefalia, se consegue reduzir a necessidade de implantar a válvula dentro da cabeça do bebê, pois é um grande complicador que chega a provocar de vez em quando uma infecção muito grande.
Renato Sá revelou que a expectativa da STFF no Brasil é uma média de 1.000 casos por ano. “Se você juntar todos os centros que fazem, hoje concentrados na Região Sudeste, eles não fazem nem 100 casos/ano. Hoje a gente perde quase 90% dos casos, mas com o desenvolvimento em rede que a D’Or está se propondo a fazer, levando o centro mais para as pontas, tendo centros em todas as partes do Brasil, a expectativa é que esses casos sejam alcançados e haja redução na perda da oportunidade do tratamento.
Expertise - “Esse é o grande objetivo: melhorar o diagnóstico, a possibilidade do tratamento e consequentemente a sobrevida dos bebês. O grupo já tem experiência nesse tipo de tratamento em rede com outras especialidades como oncologia, doenças inflamatórias intestinais, e agora esse modelo está indo para a medicina fetal”, disse.
O médico adiantou que boa parte do trabalho da Rede de Medicina Fetal será por telemedicina e os atendimentos presenciais serão com as equipes que estão sendo treinadas e desenvolvidas em cada uma dessas regiões. “A telemedicina tem contribuído não só para o capital da formação humana, mas para o acesso a informação, a um segundo parecer”, informou.
“Hoje eu deixo uma palavra de esperança para que as mulheres possam ter acesso e conseguir melhorar os resultados desses bebezinhos que é tudo que a gente quer: a mãe com seu filho no colo da melhor maneira possível, pois recebia mulheres no Sudeste que tinham a necessidade de um tratamento com urgência, mas que pela distância, dificuldade de transporte e logística, cobertura de planos de saúde, acabavam perdendo a oportunidade de tratamento”, relatou.
A coordenadora de Medicina Fetal do HNSN, Jullyana Costa ressaltou que o serviço foi iniciado em setembro do ano passado, inicialmente com a necessidade de crescimento da maternidade que hoje conta com um grupo de seis obstetras, especialistas em medicina fetal e ultrassonografia.
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